EFIGÊNIO MOURA &
Falar e escrever palavras minhas e do meu povo, da forma mais certa, parecendo errada.
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quarta-feira, 29 de novembro de 2017
terça-feira, 28 de novembro de 2017
No lançamento da exposição fotográfica Janelas de Mim de Imara Queiroz, o autor Efigênio Moura emociona o público presente com suas palavras
Louvado seja nosso Senhor Jesus
Cristo?
A vida que é formada de muitas
idas, ensina muito mais nas voltas.
A história de vida da gente as
vezes nem é da gente mesmo, mas pelo ouvir, pela saudade estampada no olhar, quando
ficávamos deitados nos pés da mãe ouvindo conversa de adulto, a gente tomava como
particular as estórias contadas pelos nossos ancestrais.
Alguém que desde pequeno ouve
palavras que somem, se empoeiram, palavras que são esquecidas em
riba de um armário, debaixo duma cama de colchão de capim, ou mesmo que a gente pensava que ela tinha batido
a caçuleta.
É como a luta da vida, que derna do
começo que a gente estica o pescoço pra
chegar antes...
Tirar retrato de uma realidade
nossa e mostrar, é mais que apertar a mão no trato com a terra amostrada, é uma
declaração de luta, amor e respeito.
Quando um catingueiro sente
ranger a terra quente em baixo de sua alpercata
ele só tem um desejo: findar o dia.
Findar o dia significa arrastar
carrascais com os pés, deixa o couro do rosto ingiado pro mode do o sol que se foi, ouvir sons calmos e
próprios, retirar da barra da calça os carrapichos que irão voltar na barra do
dia, se barra tiver.
Findar o dia e ir até o fogão que
hoje virou cimento, mas que guarda as mesma cinzas que escureceu um dia, tigelas
e panelas , tingiu paredes e esfumaçou telhas, caibros e ripas desalinhadas.
Fé de quem não nasceu na terra
que se ama.
Fé de quem vive a terra que se
entrega.
Aqui foi formada uma caatinga. Aqui
e agora é como se fosse a embaixada do Cariri. Um mundo além do asfalto. Aqui,
onde a água antiga muia os beiços dessa casa, há muito de mim e
de todos que viemos e estamos nos Cariris Velhos.
Imara conseguiu criar
nessa vida urbana o tempo de quem veio de Serra Branca e Parari ouvindo aquelas palavras que falei lá
no começo, a maioria delas de amor . Extraindo
do meio mundo que nos pertence, a alma das coisas e das gentes, dos bichos e
das plantas.
Andar por essas gravuras sentindo
um graveto seco de aroeira se torar,
se esquivando do leite que pinga do
avelós, arribando a calça ou a
saia pra sartar o passador até descambar num universo de
sempre; até se reencontrar com as bacias , uma amarela e outra de ágata, sendo
a última bem dizer a mesma que um dia Severino da Bacia salvou o padre Luciano Queiroz de um afogamento
em uma das cheias do Rio Taperoá e que
hoje tá guardadinha em outro Museu,
o de Dona Graça, no tão nosso centro de
Parari.
Engolir pelas ventas as poeiras que se desaprega
de um papel de chokito abandonado num facheiro e se encontrar com o olhar
vigilante de Damião, bebendo de boca fechada os últimos raios do dia, aqueles
que vão deixando o cabelo da gente da cor de alumínio...
É esse é o mundo que
barruamos agora!
Um mundo Imariano, nascido no meu Cariri!
(Efigênio Moura, 22/11/17)
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