Seguidores

terça-feira, 28 de novembro de 2017

No lançamento da exposição fotográfica Janelas de Mim de Imara Queiroz, o autor Efigênio Moura emociona o público presente com suas palavras



Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo?
A vida que é formada de muitas idas, ensina muito mais nas voltas.
A história de vida da gente as vezes nem é da gente mesmo, mas pelo ouvir, pela saudade estampada no olhar, quando ficávamos deitados nos pés da mãe ouvindo conversa de adulto, a gente tomava como particular as estórias contadas pelos nossos ancestrais.
Alguém que desde pequeno ouve palavras que somem, se empoeiram, palavras que são esquecidas em riba de um armário, debaixo duma cama de colchão de capim, ou mesmo que a gente pensava que ela tinha batido a caçuleta. É como a luta da vida, que derna do começo que a gente estica o pescoço pra chegar antes...
Tirar retrato de uma realidade nossa e mostrar, é mais que apertar a mão no trato com a terra amostrada, é uma declaração de luta, amor e respeito.
Quando um catingueiro sente ranger a terra quente em baixo de sua alpercata ele só tem um desejo: findar o dia.
Findar o dia significa arrastar carrascais com os pés, deixa o couro do rosto ingiado pro mode do  o sol que se foi, ouvir sons calmos e próprios, retirar da barra da calça os carrapichos que irão voltar na barra do dia, se barra tiver.
Findar o dia e ir até o fogão que hoje virou cimento, mas que guarda as mesma cinzas que escureceu um dia, tigelas e panelas , tingiu paredes e esfumaçou telhas, caibros e ripas desalinhadas.
Fé de quem não nasceu na terra que se ama.
Fé de quem vive a terra que se entrega.
Aqui foi formada uma caatinga. Aqui e agora é como se fosse a embaixada do Cariri. Um mundo além do asfalto. Aqui, onde a água antiga muia os beiços dessa casa, há muito de mim e de todos que viemos e estamos nos Cariris Velhos.
Imara conseguiu criar nessa vida urbana o tempo de quem veio de Serra Branca e  Parari ouvindo aquelas palavras que falei lá no começo, a maioria delas  de amor . Extraindo do meio mundo que nos pertence, a alma das coisas e das gentes, dos bichos e das plantas.
Andar por essas gravuras sentindo um graveto seco de aroeira se torar, se esquivando do leite que pinga do avelós, arribando a calça ou a saia pra sartar  o passador até descambar num universo de sempre; até se reencontrar com as bacias , uma amarela e outra de ágata, sendo a última bem dizer a mesma que um dia Severino  da Bacia salvou o padre Luciano Queiroz de um afogamento em uma das cheias do  Rio Taperoá e que hoje tá guardadinha  em   outro Museu, o de  Dona Graça, no tão nosso centro de Parari.
Engolir pelas ventas as poeiras que se desaprega de um papel de chokito abandonado num facheiro e se encontrar com o olhar vigilante de Damião, bebendo de boca fechada os últimos raios do dia, aqueles que vão deixando o cabelo da gente da cor de alumínio...
É esse é o mundo que barruamos agora!
Um mundo Imariano, nascido no meu Cariri!

(Efigênio Moura, 22/11/17)

E agora: Pedro Jeremias, a nova cria do autor Efigênio Moura

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Do livro Caderneta de Fiado

A imagem pode conter: texto

Dica de Leitura - Ciço de Luzia


“Era um Fusca 74, devagar e subindo. O pára-choque
traseiro era um assento que parecia ter sido feito sob
encomendapara Netinho, cabia o menino direitinho. 
O Fusca, coitado,
agora arfava..”
Eita Gota! - na ótica de Jefferson Campos(RN)-
Capítulo da Peleja

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Novo Selo para o novo livro de Efigênio Moura, Pedro Jeremias.

Nenhum texto alternativo automático disponível.